ENTREVISTA COM P. B. SOUZA/ AUTOR DE PRIMAVERA DE RULIM


Olá, eu sou a Nathalia! ~gritinhos da plateia~
Tudo bem... o que você acham de fics com o foco LGBT? É fácil de escrever? Nunca tentou? Bem… é dificinho, porque as vezes pessoas que não gostam da temática homossexual vão na sua estória só para espalhar o ódio. GENTE???

♥ Dica do dia ♥ se não gosta, não leia.

Ou às vezes você simplesmente não sabe como descrever algo, como o preconceito ou chuca… (oi), justamente por nunca ter sofrido tal coisa.
Quando eu li Primavera de Rulim (que há de ter resenha aqui no blog), eu realmente fiquei muito impressionada, pois a facilidade com que o autor descreve as cenas… os personagens… tudo, faz com que você se sinta solto e confortável com a estória, assim, se apegando à ela. Tanto que quando acabou, eu quase chorei (desabafo aqui).
Eu tinha uma professora de Língua Portuguesa que sempre me dava conselhos... "Para uma estória dar certo ela tem de ter um começo, um problema, um meio, uma resolução do problema e um fim". E é exatamente isso o que o autor faz. Você chora com os personagens, fica aflito com os seus problemas…
Eu, como a menina maravilinda que sou, fui tentar achar o autor no Facebook, e depois de muito custo… achei. Conversamos um pouco, e quando ele estava quase me mandando embora, eu pedi uma entrevista. A contragosto ele aceitou (haha, mentira ele gosta de mim…. eu acho).
Além de falar sobre suas outras fics fantásticas e distópicas, ele fala também como se organiza com seus roteiros e deu algumas dicas… vem ver.


Diga seu nome e sua idade para gente…

Meu nome é Yuri Pereira Bernades de Souza, mas só Yuri Souza já tá bom, porque é muito nome! Eu tenho 19 anos.

Com quantos anos começou a escrever e por quê?

Foi com onze anos, e inclusive tenho uma promessa quanto a isso.
Minha prima, Janaina, que escrevia fanfics (na época, pelo orkut), me fez embarcar nessa onda e então me descobri escritor, mas apenas de originais. E aí, prometi que se um dia publicasse algo, ela estaria na dedicatória!

Já disse escrever apenas originais (o que para muitos é um bicho de sete cabeças, em questões como criações de personagens, descrições de cenários e etc). Como é para você esse universo todo?

Sim. Eu já tentei escrever fanfics, tive três. Acho que elas são “mais fáceis” de escrever. Justamente por você já ter boa parte criado… e era exatamente isso o que me incomodava. Eu não gostava de pegar algo já criado e estender porque me sentia desperdiçando uma habilidade que devia treinar. E como mestre de RPG dos amigos da rua, sempre tive que me virar com a criação de tudo. Então, acabou que eu tive “um bom treino” antes de escrever de verdade.
Mas, se pensarmos bem, escritores de fanfics têm mais responsabilidades que escritores de originais, pois têm de manter a íntegra a personalidade e afins de personagens e locais já estabelecidos. E como eu gosto de criar tudo, não quero tal responsabilidade e despertar a ira de um fandom só porque decidi que o herói se torna o vilão no final. (risos)

(risos) SIM! Nas originais temos uma liberdade de criar o que bem queremos, um mini universo na mente que temos que passar para o computador (o que é difícil). Como é o processo de escrita para você?

Em uma palavra é: demorado! O que mais escrevo é fantasia medieval, então bolei uma fórmula para escrever que uso para tudo o que vou criar.
Primeiro, eu faço os personagens essenciais, na qual a história vai rodar e tento imaginar o básico de cada um. Como, o que gostam, o que odeiam, principais defeitos e qualidades, temperamento… e o corpo, cor da pele, olhos, cabelos e  fisionomia, deixo sempre para o fim. Depois desenho mapas à mão, para me situar e imaginar os caminhos possíveis na qual o personagem irá passar. E assim, começo criando mitologias, pequenas histórias que enchem a trama principal, pode ser uma lenda sobre um hotel aonde a protagonista vai passar pelo menos uma noite ou a história paralela de um personagem de apoio.
Vou criando tudo isso antes de partir pra história em si. Ai faço um .doc que chamo de roteiro aonde faço o esqueleto de toda a fic do começo ao final. Normalmente só começo a escrever a história mesmo quando já escrevi o roteiro até o décimo capítulo, para ter certeza que é esse o caminho que vou seguir na história.
E, claro, também conto com alguns amigos e amigas que fico enchendo a paciência perguntando se tal coisa é interessante (insegurança? Magina!).

Insegurança todos temos! (risos) como o tal bloqueio criativo... Os dois são meio tipo pombo né. Quando falta criatividade, o que você faz?

O Bloqueio é algo que essa técnica de fazer um roteiro me "cura". Quer dizer, ainda acontece... mas bem menos. Quando eu sei exatamente o caminho que a história vai seguir fica mais fácil porque tudo que preciso é preencher com detalhes e descrições e sentimentos. Esse último é o que realmente atrapalha! Quando sinto que estou travado em um capítulo eu consigo escrever tudinho, mas fica "frio", sem sentimento. Acho que esse é o meu problema com bloqueios criativos. Mesmo assim escrevo, deixando a história gelada mesmo. Porque sempre reviso meus capítulos depois de alguns dias. E então, nessas revisões, eu preencho com o que faltou.
E outra técnica que me salvou muito foi de uma escritora que não me recordo que disse para tirar todos dia 2 horas para escrever! Não importa se vai ser ou não sua história, escreva 2 horas por dia só para "limpar a mente". Comigo isso dá muito certo. Quando não consigo desenrolar a trama de jeito nenhum abro um .doc novo e saio escrevendo qualquer coisa até voltar a fluir!

Técnicas interessantes. Eu só fico batendo a cabeça na parede até pensar em algo (brincadeira)... Em Primavera Rulim, você, quase em todos os capítulos deixa uma música para os leitores. Você acha que elas ajudam a se inspirar para escrever sobre sentimentos e afins?

A escolha de deixar uma música... é mais um golpe de marketing combinado com meus gostos pessoais.
Normalmente eu leio e escrevo ouvindo músicas, mas nunca dou atenção para elas (barulheira em casa atrapalha mais que músicas que eu gosto), então uso as músicas como um "distrativo" enquanto escrevo. Ai de repente me vejo cantando enquanto encaro a tela do editor de textos e pensando em como aquela letra tem tudo a ver com X personagem.

Decidi, em Primavera de Rulim, passar isso para a leitora e leitor como um complemente. Foi algo bem natural porque a maioria das músicas acabava tendo uma coisinha ou outra justamente sobre a história e isso era tão importante para mim e para a história, e, invariavelmente, para quem está lendo e sentindo junto dos personagens.

No momento da criação seca da história, lá no roteiro, isso nem me passa pela cabeça, mas não posso negar, quando estou dando "acabamento" nos capítulos as músicas vem com um peso a mais e por vezes acabam influenciando sim na narrativa, deixando mais pesada ou alegre, dependendo da música e do capítulo.

Estou certa quando digo que Primavera de Rulim é a sua maior fic em questão de reconhecimento, não é? Tanto que você surtou quando viu que ela chegou a ter mais de 200 comentários. Você acha que números são importantes para o autor? Ou ele pode muito bem escrever uma boa história com poucas visualizações?

Está certa sim,Primavera de Rulim ultrapassou todas as minhas expectativas e no final eu já não sabia se eu estava alcançando as expectativas dos leitores para com a história!
Ainda mais que, como frisei no inicio da história, era meu primeiro romance yaoi e em primeira pessoa (excluindo uma short-fic que fiz de teste para a escrita em 1° pessoa), então esperava que fosse sair algo no mínimo desconexo e não fosse atrair muita atenção. Ledo engano o meu.

Então dai meu ataque de felicidade ao ver o sucesso em comparação com minhas outras fics. No entanto sobre a pergunta em si, creio que dependa muito de autor para autor.

Existe aqueles que só funcionam se incentivados, se receberam feedback dos leitores, não os culpo, a sensação é ótima! Mas eu quero ser escritor de profissão, então essa de feedback tem que ser uma recompensa ao trabalho, não o que motiva ele!

E como só escrevo originais meio que é uma responsabilidade minha, tudo que eu começo eu termino e dou meu melhor no que estou fazendo, independente do retorno, afinal, o retorno para mim é uma recompensa, não o que move o trabalho.

E ainda penso nos fantasmas que leem a história, mas por N motivos não comentam. Ainda no caso de Primavera de Rulim, tinha uma leitora que era fantasma e me contatou por MP, ela tinha vários problemas e por tais não comentava, e a história estava ajudando-a em sua condição suicida. Sabe-se lá porque fantasmas não comentam, mas talvez tenham seus motivos e sejam bons motivos!
Então sim, os números importam, mas mais importante que os números é passar a mensagem que você planejou no começo porque isso é o cerne de toda história, não? Passar uma mensagem. Se 1 pessoa só ler, já é lucro!


Você já disse querer ser autor profissional, e que não escreve apenas yaoi. Mas como foi a experiência de escrever sobre a comunidade LGBT, consequentemente tendo de descrever o preconceito não só na sociedade mas principalmente na família em Primavera de Rulim? Sabendo que são problemas reais enfrentados diariamente por muitas pessoas…

Não, não escrevo apenas yaoi, inclusive essa foi minha primeira história no gênero. Dai meus medos de "dar close errado". Ainda mais que meus temas são sempre distopias, fantasias e policiais.
Então passei para parte LGBT. Acho que o mais complicado foi a parte da família. Ódio externo é sempre "mais fácil" de lidar, mas dentro de casa é sempre mais complicado!

O ódio vindo daquelas pessoas que sempre disseram que te amavam e te dariam suporte em tudo é devastador, e quando esse ódio deixa de ser só ódio e vira violência é destruidor! Eu me perguntei por muito tempo como ia fazer nessa parte da história, para passar o que precisava passar ao leitor sem soar falso (tenho a mania de experimentar as coisas antes de escrever sobre elas. Em um romance policial que o protagonista cai do prédio eu fiz um salto em queda livre antes para saber como descrever a cena, só uma exemplo). Mas para a situação de Lucas eu não tinha como vivenciar aquilo que ele vivenciou na história, então me preocupei muito com a qualidade do que ia escrever! Por sorte tenho vários amigos gays e bi e alguns sofreram muito ao terem de se assumir, Então usei um pouco do conhecimento deles emprestado para essa parte da história, além de muita pesquisa no tio google!

Fora Primavera de Rulim, você tem mais projetos sendo escritos?

Sim, tenho no momento três histórias em andamento.
A nova estação, que é uma continuação indireta de Primavera de Rulim, tratando sobre temas mais adultos com menos interferência da família e mais sobre relacionamentos e as responsabilidades de sair da adolescência e ter que lidar com os deveres de virar adulto!

Tem a Maldição Soverosa, que é aonde estou me dedicando mais no momento (Nova Estação estou fazendo o roteiro ainda, enquanto Soverosa já estou escrevendo mesmo). Está é sobre três famílias escravagistas da época colonial que foram amaldiçoadas por índias e "bruxas" de origem africana. E essa maldição perdurou por gerações até Kaio, o protagonista. E como tem toda história minha, essa o destaque está para o emponderamento negro, onde a maioria dos personagens são negros ou de misturas de raça, e aborda muito tema de racismo, desigualdade, exploração do mais pobre, etc.

E a última e que estou terminando é Draco et Homines; Sangue e terra (minha maior história em tamanho, de fantasia), como é a continuação de Lágrimas de fogo não adianta explicar muito sobre, mas aborda tantos temas tabus quanto as outras, só que com o advento de dragões e magia (quão legal é isso?). E essa felizmente falta só oito capítulos pra acabar, depois de quase um ano e meio escrevendo-a.

Esses são os três projetos atuais em andamento. Mas já comecei um quarto só na ideia ainda, mas esse é segredo por enquanto.

Ok, autor. Para terminar, que tal umas “perguntinhas curtas” (mas não tão curtas, porque eu falo demais). Um sonho?

Em curto prazo: publicar um livro. Longo prazo: sair do país (mas pretendo voltar depois)

Um autor nacional favorito?

Pedro Bandeira

O que você falaria para o seu eu de onze anos?

Você tem futuro na escrita, mas preste atenção nas aulas de português, seu português é horrível!

(risos), modesto! Uma dica relâmpago para autores iniciantes que têm o mesmo sonho que você.

É clichê… mas, não desista! O que tenho de amigos que largaram suas fics por comentários de hater ou por falta de leitor… Se você começar a escrever algo VÁ ATÉ O FIM! Não pelos outros, por você! Se você conseguir terminar, só assim vai descobrir se é isso o que realmente quer fazer.

Que amorzinho! ♥ Bem… então acho que é só, Yuri! Obrigada pela oportunidade.

Eu que agradeço pela chance de falar um pouquinho sobre mim e sobre temas importantes como a questão da comunidade LGBT! E, claro, a chance de estar em um pedacinho do blog! (risos)


Simpático, não? Quem quiser saber mais sobre a estória, ou estórias do Yuri entra no perfil dele é dá uma conferida… vocês não vão se arrepender!


Beijos, gladiador(a)!

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Topo